Com esta temática, ele nos coloca imersos nas angústias que esta onipotência nos traria com as suas consequências. Escolhas muito difíceis teriam que ser feitas. O que, quem ou quais sonhos seriam priorizados? Já que algo ou alguém seria gravemente prejudicado. Demonstra a relatividade do conceito de justiça, pois é fortemente alterado quando analisado a partir dos próprios interesses, diante de cada situação.
São vários temas interessantes para serem pensados no decorrer desta trama. Mas, destacando um tema principal, o tempo – com sua imposição, sua impossibilidade de alteração, tampouco aceita qualquer questionamento e que caminha para o sentido da morte. Na luta durante a vida contra a morte, quanto tempo é desperdiçado, deixado de ser vivido, lutando uma batalha que já tem vencedor?
Nesta nossa realidade, com tantas tecnologias sendo desenvolvidas para tentar cada vez mais satisfazer as ilusões criadas pelas dificuldades humanas em lidar com os limites inexoráveis à vida, aceitar a passagem do tempo, a própria finitude e a finitude de tudo e todos que amamos nos aproxima da nossa humanidade, com limites e impotências, podendo, inclusive, trazer um alívio por não conseguirmos tudo aquilo que gostaríamos. O que nos cabe é tentar viver o momento presente, com toda a sua grandeza. Conjugar o verbo viver no gerúndio – vivendo. Afinal, citando Sêneca, filósofo romano que nasceu no ano 4 a.C., já às voltas com este tema central da nossa existência: “a vida é longa o suficiente, caso se saiba como aproveitá-la. E toda extensão é tempo, não vida.”
Lívia Maria Saadi Ezinatto é psicóloga especialista clínica, trabalha com psicoterapia psicanalítica de adulto e casal. Membro Titular do IEP-RP (Instituto de Estudos Psicanalíticos de Ribeirão Preto) e Membro Efetivo da ABPCF (Associação Brasileira de Psicanálise de Casal e Família).
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