segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Espaço da Entrevista: Gisele Alves - Casa do Psicólogo


Em agosto de 2011 o Espaço Psi, em parceria com a Casa do Psicólogo realizou a palestra sobre Avaliação Psicológica, e o curso sobre os seguintes testes: Teste de Atenção Concentrada – TEACO-FF, Teste de Atenção Dividida (TEADI) e Teste de Atenção Alternada (TEALT), Teste de Trilhas Coloridas – TTC. Ambos ministrados pela psicóloga Gisele Alves.

Gisele é Psicóloga e Mestre em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu na Universidade São Francisco – USF. Pesquisadora do Departamento de Pesquisa e Produção de Testes da Editora Casa do Psicólogo. Organizadora e autora de capítulos do livro “Avaliação Psicológica: guia de consulta para estudantes e profissionais da psicologia”; autora da adaptação brasileira do “Teste Não-Verbal de Inteligência Geral - BETA-III” e do instrumento de liderança situacional “Leadership Judgement Indicator (LJI - versão brasileira)”. Possui diversos outros capítulos de livros e artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais. Docente de disciplinas de avaliação psicológica em cursos de especialização e ministra cursos na livraria Casa do Psicólogo e em diversos congressos, e eventos.

Segue abaixo entrevista gentilmente cedida ao Espaço Psi:
Espaço Psi: Como você percebe a formação em Avaliação Psicológica dentro dos cursos de graduação em Psicologia?

Gisele Alves: Penso que, atualmente, o grande desafio da área de Avaliação Psicológica reside na formação dos psicólogos. Tal formação deveria garantir que os futuros psicólogos estivessem aptos a aplicar, corrigir e interpretar os instrumentos psicológicos de forma adequada, o que não ocorre na maior parte dos cursos de graduação do país. Já foram publicadas pesquisas de levantamento em periódicos científicos que mostram a precariedade do ensino de avaliação psicológica, demonstrada pelo baixo número de horas e conteúdos das disciplinas voltadas para esse fim.

As deficiências na formação dos psicólogos em avaliação psicológica levam ao uso inadequado de instrumentação psicológica e a faltas éticas quanto à segurança dos documentos oriundos do processo de avaliação, bem como à confusão a respeito do que se refere um processo de avaliação psicológica e de testagem. Embora o cenário do ensino em AP tenha melhorado nos últimos anos, também com o advento das resoluções do CFP de 2001 e 2003 a respeito do uso e comercialização de testes psicológicos, é inocente e precipitado afirmar que tais resoluções e avanços decorrentes delas até o momento tenham esgotado a questão.

A quem se interessa pelo tema, recomendo a leitura do artigo intitulado “Sobre o Ensino de Avaliação Psicológica”, escrito pelos colegas Noronha, Carvalho, Miguel, Souza e Santos (2010), publicado no periódico Avaliação Psicológica, disponível em versão online no PEPSIC.
Noronha, A.P.P., Carvalho, L.F., Miguel, F.K., Souza, M., & Santos, M.A. (2010). Sobre o ensino de avaliação psicológica. Avaliação Psicológica, 9, 139-146.

Espaço Psi: E, dentro deste contexto, como você avalia as perspectivas futuras da avaliação psicológica no Brasil?

Gisele Alves: Atualmente, é possível observar avanços significativos da área, como o aumento de construtos avaliados por instrumentos psicológicos brasileiros, bem como a atualização de estudos normativos e psicométricos dos instrumentos brasileiros e/ou adaptados para esse contexto. Ao lado disso, o ano de 2011 dedicado ao tema contribuiu para com as discussões e argumentações a respeito do tema. Uma dessas discussões abordou a questão, controversa, da avaliação psicológica como sendo privativa do psicólogo. Embora essa restrição tenha se dado também para que houvesse diretrizes mais claras a respeito do campo, bem como uma comissão que pudesse avaliar a “qualidade” dos testes (SATEPSI), foi inevitável que isso esbarrasse em outras questões.

Sabe-se que há profissionais que compartilham conosco do conhecimento e abordagem de construtos psicológicos, como psiquiatras, neurologistas, educadores, pedagogos, entre outros profissionais de áreas correlatas. Há casos em que esses profissionais estudam, constroem e/ou adaptam instrumentos que, após análise do SATEPSI, não podem ser utilizados por eles, os próprios autores dos testes. Isso se dá porque a restrição do uso não leva em conta as habilidades dos profissionais para manuseio e interpretação dos resultados dos testes, mas sim a sua formação em graduação. Como abordado na questão anterior, a formação do psicólogo muitas vezes parece não ser suficiente para que seja garantido o uso adequado da instrumentação psicológica e, dessa forma, não se justifica a restrição do uso dos testes somente à psicólogos.

Acredito e espero que futuramente, o critério para a realização do processo de avaliação psicológica seja outro (a habilidade do profissional) e ainda, que a formação dos psicólogos seja aperfeiçoada e lhe dê subsídios para que sejam considerados qualificados e para que atuem no campo de forma ética.
Espaço Psi: Em relação ao banco de dados, mantido pela Casa do Psicólogo, para os testes informatizados, quais seriam os cuidados éticos que devem ser tomados pelos psicólogos que gostariam de ajudar com o envio de informações?

A Casa do Psicólogo criou o recurso de correção informatizada para auxiliar a correção, uso preciso das fórmulas e consultas de tabelas de forma automática, não se propondo a substituir a avaliação dos profissionais psicólogos, mas possibilitar uma dedicação maior na análise qualitativa dos dados coletados, em função do menor tempo empenhado nos cálculos brutos e percentílicos dos instrumentos.

Ao utilizar este recurso, o psicólogo terá a opção de autorizar o uso dos dados coletados, com a garantia de sigilo das informações, em pesquisas que a Casa do Psicólogo poderá desenvolver sob a responsabilidade do Departamento de Pesquisa e Produção de Testes, visando o aprimoramento e a atualização dos instrumentos de avaliação psicológica, em conformidade com o Código de Ética Profissional do Psicólogo, a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde e Resoluções específicas do Conselho Federal de Psicologia.

O psicólogo, ao conceder autorização (que será solicitada em cada correção), se compromete a obter o consentimento livre e esclarecido dos clientes, informando ao mesmo a liberdade de participar ou recusar o consentimento e garantindo a privacidade e o uso sigiloso dos dados confidenciais envolvidos.

Espaço Psi: Em relação aos instrumentos de avaliação da atenção, existe alguma previsão de adaptação e lançamento de testes psicológicos voltados para crianças e adolescentes?

Gisele Alves: O departamento de pesquisa e produção de testes da Casa do Psicólogo conduz, atualmente, uma pesquisa que visa a disponibilização de uma adaptação brasileira de um instrumento que avalia atenção em crianças. Essa pesquisa está em fase de coleta de dados e conta com a colaboração de outros pesquisadores psicólogos, que nos auxiliam no processo de coleta. Esperamos que em breve, esse instrumento seja avaliado pelo SATEPSI e tenha seu parecer favorável, para que possa ser disponibilizado aos psicólogos que tanto carecem de instrumentos que avaliam esse construto na população dessa faixa etária.