sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Sextou no ESPAÇO PSI (25/11/22)


"Onde as cores tem som, onde as flores caminham, onde as dores não entram... Me responde onde é?". É com essa indagação com um quê de existencial que começa "Em Busca das Canções Perdidas nº 2", de um álbum um tanto esquecido pela grande mídia, do meio da carreira de Erasmo Carlos. A gente costuma lembrar dele ao lado do Roberto, ou de alguma música cantada pelos Titãs ou Barão Vermelho. Mas nem só de lirismo da juventude, Jovem Guarda e MPB pop viveu nosso rei do rock.

O artista, que ganhou um Grammy poucos dias antes de falecer, lançou um dos álbuns icônicos da MPB. O "Carlos, Erasmo", do qual faz parte a canção mencionada aí em cima, é do início da década de 1970, época em que o compositor se lançou a um som experimental e intimista, distanciando-se do período mais "adolescente" da Jovem Guarda. Coloquei pra tocar e fui procurar pra comprar... Esgotadíssimo! Os raros, uma fortuna! Vantagem que dá pra ouvir de graça em vários tocadores, como Spotify e Youtube. 

É um Erasmo meio rock, meio jazz, meio não sei quê e tudo junto e misturado. Tem berimbau na música que Caetano fez do exílio (“De noite na Cama”), tem samba-rock ("Ciça Cecília") e rock mais rasgado ("Agora Ninguém Chora Mais"). A foto da capa dá o tom do álbum: um viajante reflexivo que fala a um interlocutor, se apresentando como alguém que já acumulou muita experiência nessa vida. Ele conta o que viveu ("um deserto de almas negras") e chama pra luta ("é preciso dar um jeito, meu amigo!"). O repertório explora bastante os instrumentos, enquanto as letras, nada óbvias, falam de amor, política e questões existenciais. Ouvi-lo é uma experiência tocante, potente e sensorial. Quem já ouviu "Acorda, Amor", álbum coletivo da MPB recente, vai reconhecer "Gente Aberta", uma balada doce, simples, porém contundente ("eu não quero mais conversa com quem não tem amor"). Dá pra entender o apelido do cara, e arrisco dizer que o Tremendão dessa época está muito vivo nessa MPB jovem e atual, dentre tantos outros artistas. Vale conferir!

Stella Crivelenti Vilar é psicóloga (CRP 06/124700) na clínica e na área social. É curiosa sobre música há muito tempo e tem se dedicado a estudar Psicanálise nos últimos anos.

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