Na minha vivência, a gravação de Iansã, de Rita Benneditto e Maria Bethânia (2006), é de uma potência excepcional. O som gritante da guitarra, marcado pela batida da bateria, substitui a energia dos tambores da religião africana, sem em nada perder, ao nos passar a intensidade de toda a ancestralidade que carrega. Rita canta forte, evocando em nós ouvintes, sentimentos coletivos ancestrais de experiências de luta pela sobrevivência, física e psíquica, mesmo em meio a vivências tão violentas quanto as dos tempos de senzala. A arte, nesse caso a música, se mostrando como via de elaboração psíquica através dos símbolos e da verdade que carrega. A composição da música é de Gil, a letra de Gil e Caetano. A voz de Rita abre espaço para a força e constância magnânima de Maria Bethânia. Ali somos compreendidos em nossas lutas pela manutenção da pulsão de vida, da busca pela consciência e pela força, diante das turbulentas águas de dentro de nós. Senhora das nuvens de chumbo, Senhora do mundo dentro de SI.
Marina Delduca Cilino: Psicóloga clínica (USP), amante da música, curiosa da história do Brasil, admiradora da cultura preta, Mestre em Psicologia da Saúde e Desenvolvimento (USP), Especialista em Teorias e Técnicas Psicanalíticas (IEP-RP).
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